Topo

Boni lembra rompimento com Silvio e avalia: 'Ele não contribuiu para a TV'

Roberto Nemanis/SBT

De Splash, em São Paulo

13/12/2020 04h00

Boni, 85 anos, e Silvio Santos cruzaram o caminho um do outro em momentos que até hoje despertam muita curiosidade no público. A Splash, o ex-diretor geral da Globo relembrou fatos marcantes e fez uma avaliação sobre o dono do SBT, que acaba de completar 90 anos de aniversário e 60 de televisão.

Boni em seu escritório no Rio de Janeiro - Rafael Andrade/Folhapress - Rafael Andrade/Folhapress
Boni em seu escritório no Rio de Janeiro
Imagem: Rafael Andrade/Folhapress
Continua depois da publicidade

Sócio de Silvio Santos?

Um dos episódios mais controversos é um acordo no papel no início dos anos 2000, que daria praticamente carta branca a Boni para mexer na programação do SBT.

Chegamos até assinar contrato, mas o Silvio me ligou de madrugada. Ele estava com medo de perder o brinquedo dele.

'Se você não está se sentindo bem, melhor não fazermos coisa nenhuma'. Ele falou: 'Rasga o contrato daí que eu rasgo daqui'. Falei, 'vamos fazer um distrato'. E assim fizemos legalmente. Foi amigável. Ele sempre foi muito gentil, me explicou a situação e eu entendi. Não poderia ter outro desfecho.

Silvio Santos na Parada SBT de 1987 - Divulgação/SBT - Divulgação/SBT
Silvio Santos na Parada SBT de 1987
Imagem: Divulgação/SBT

O que Boni faria no SBT?

O empresário tinha planos audaciosos e o objetivo era competir de igual para igual com a Globo. Mas isso levaria tempo, e segundo ele Silvio Santos gosta de resultados a curtíssimo prazo. Além do que brigar pelo primeiro lugar não era exatamente o que ele queria.

Uma coisa que admiro no Silvio é o equilíbrio dele. Ele sempre fugiu de competir com a Globo. Ele não queria ser líder, mas ter um veículo para vender os produtos dele. O vendedor era mais forte do que o empresário de televisão.

Continua depois da publicidade
Boni - Moacyr Lopes Junior/Folhapress - Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Boni não acredita que teria sido bem-sucedido se tivesse trabalhado com Silvio no SBT. Ele avalia:

"Ele sempre foi imediatista. Não teria dado certo a minha passagem por lá porque ele não teria tido paciência para esperar três anos com o doutor Roberto Marinho esperou".

Boni teria de ir ao mercado em busca de produtos para repaginar a programação do SBT, com investimento em esporte, jornalismo, filmes e novelas.

Ele imaginava uma TV mais eclética e menos restrita a programas de auditório. Silvio fez só uma exigência: que não mexesse no programa dele. E Boni aceitou.

Eu não poderia trabalhar com ele já que ele se sentia desconfortável com a minha presença.

Boni é o grande responsável por tornar a TV Globo uma emissora de rede, isto é, com uma programação unificada e de alcance nacional. Também ajudou a formatar o "padrão Globo de qualidade", investindo em dramaturgia, jornalismo e refinando os programas de uma forma geral.

Continua depois da publicidade
Boni e Walter Clark fizeram do 'Jornal Nacional' o primeiro programa de rede do país - Reprodução - Reprodução
Boni e Walter Clark fizeram do 'Jornal Nacional' o primeiro programa de rede do país
Imagem: Reprodução

Ele vê o SBT como um complexo de vendas e Silvio, o dono, como o maior cliente e maior astro da própria emissora. É neste sentido que Boni faz uma crítica: "Silvio deveria ter estruturado uma empresa profissional mesmo que o alvo dele não fosse a TV Globo".

Que ele trouxesse uma contribuição para a TV brasileira, mas que na verdade ele não deu nenhuma. Nunca teve coragem de fazer um grande jornalismo. Fez porque era obrigado. Ele fez de tudo um pouco. Não fez nada que fosse importante para a história da TV brasileira, a não ser ele mesmo.

Silvio Santos - Lourival Ribeiro/Divulgação - Lourival Ribeiro/Divulgação
Imagem: Lourival Ribeiro/Divulgação

A verdade é que os caminhos de Silvio e Boni se cruzaram muitos anos antes desta quase sociedade que nunca saiu do papel. O animador de auditório comprava os domingos na Globo e chegou a emprestar dinheiro lá no início.

Continua depois da publicidade

A Globo estava praticamente falida. Naquele momento, o Silvio Santos era muito importante e a gente procurava ele para pedir dinheiro emprestado para pagar a folha de pagamento. Nesse momento nos aproximamos.

Silvio Santos no "Troféu Imprensa" na Globo:

Um comitê foi formado por Boni, Walter Clark (diretor-geral), Joe Wallach (financeiro) e Ulisses Arce (comercial) e aos poucos foi colocado em prática o projeto de uma nova programação para uma audiência mais qualificada e que correspondesse ao projeto de rede.

E começam os atritos com o dono do SBT.

Silvio Santos trazia dinheiro, mas ao mesmo tempo inibia a TV Globo de fazer a sua venda diretamente ao cliente. Chegamos a propor que ele continuasse com o programa aos domingos, mas desde que a Globo vendesse o programa dele. Mas ele não abria mão de ter o próprio departamento comercial.

O recado de Silvio Santos para Roberto Marinho em 1988

Continua depois da publicidade

Com a saída dele da emissora, Boni afirma que era esperado que o animador se tornasse um concorrente na audiência. Como se sabe, Silvio conseguiu a concessão para criar o próprio canal, no qual acabou se tornando a principal estrela.

Antes da pandemia, que paralisou as gravações no SBT, o apresentador já foi criticado por comentários considerados racistas, machistas e até de brincar com o nazismo. Silvio é judeu. Sempre em tom de piada, mas ainda assim não passou ileso.

O que Boni pensa disso?

Silvio protagoniza polêmica e é acusado de racismo:

Ele se acha acima do bem e do mal. É evidente que com a consciência que as pessoas têm hoje não cabem mais [tais comentários]. Não se pode mais brincar com essas coisas. Acho que ele pensa que veem como brincadeira. Mas não tem mais piada racista, homofóbica... Isso acabou.

O tempo passou para Silvio Santos?

Boni não acredita nisso: "Ele é um prodígio! Aguentar aquele tempo todo de programa aos 90 anos de idade. É porque ele gosta muito daquilo".

Continua depois da publicidade